Como foi que a polícia chegou em casa?
Como foi que em poucos minutos eu estava na frente do delegado respondendo perguntas que eu esperava que nunca iria responder,mas temia responder.
Como diz no jargão policial a casa caiu.
E como disse o poeta ’’e agora José"?
Pra você entender minha história vou começar do começo.
Morava eu no norte do país vivia com minha avó, senhora já idosa que deu um duro danado pra me criar depois que meus pais morreram num acidente de barco, sendo eu filho de sua filha minha avó me pegou ainda pequeno, meu avô era um sertanejo desiludido com a vida na cidade faleceu quando eu já era rapazinho, daí a necessidade de começar a trabalhar Pra ajudar minha avó por quem eu tinha muito carinho.
Antes de falecer meu avô me ensinou seu oficio de carpinteiro ele era muito bom com as ferramentas, me ensinou o que pode, aprendi cedo o valor do trabalho.
Foi trabalhando numa obra que acabei conhecendo a Ritinha, menina faceira de riso fácil e muito bonita, estranhei quando ela aceitou ir ao cinema comigo, eu era muito tímido pouco falava, mas ela não se incomodava, dizia que falava por nós dois, e era verdade.
Ela aceitou meu pedido de namoro logo no primeiro encontro, minha primeira namorada, minha avó não gostou da Ritinha achou a menina muito ’’dadinha’’ palavras de minha avó para definir a moça.
Namoramos algum tempo foi quando a Ritinha disse que tava esperando um filho meu, de inicio fiquei zonzo com a notícia, pois eu cuidava da minha avó, mas depois até que gostei ia formar minha própria família.
De novo minha avó não gostou, disse que eu era muito novo para casar e constituir família, mesmo assim cedeu uma parte do terreno para eu construir minha casa pra morar com a Ritinha.
Casei e fui morar com minha mulher nos fundos da casa da minha avó, antes de meu filho nascer, minha querida avó adoece e falece foi muito derrepente. Foi muito difícil pra eu aceitar a morte daquela senhora que eu tinha como minha mãe, era uma pessoa muito generosa muito bem quista no bairro onde morávamos, mas agora eu tinha uma família para manter e um filho as portas, era uma grande responsabilidade.
Não sei exatamente o dia, quando começou a agressividade da Ritinha, mas foi logo que o menino nasceu ela me agredia com palavras, a troco de nada, queria coisas que eu não podia dar, queria uma vida mais abastada, mas eu não tinha como. Trabalhava direto, e nos dias de folga arrumava algum bico para aumentar o salário. Passei só a trabalhar e nem via direito o menino que tava crescendo, eu queria muito sair um pouco com eles passear com minha família, mas minha mulher estava cada vez mais distante e agressiva, eu não entendia o que estava acontecendo.
Tinha um rapaz que trabalhava comigo na obra, um dia ele tentou abrir meus olhos, para o que acontecia na minha ausência em casa, mas eu achei que fosse despeito afinal Ritinha era uma mulher muito bonita, mas quando um senhor por quem eu tinha o maior respeito, pois ele era compadre do meu falecido avô, veio me abrir os olhos para as coisas que acontecia em minha casa fiquei preocupado, percebi que aquele homem não estava inventando nada, logo realmente acontecia alguma coisa em casa enquanto eu trabalhava.
E foi com essa desconfiança que fui trabalhar, não querendo acreditar no que falavam de minha esposa, estava mais preocupado com meu menino nesse rolo todo, era uma criança um ser inocente. Quando não se quer ver nada enxerga, não queria admitir que houvesse algo de errado, acho que no fundo, queria apenas ignorar.
Um dia fui trabalhar bem cedo como de costume, no meio do dia tive mos um problema e o empreiteiro nos dispensou mais cedo, fui direto pra casa, pois teria meio dia para ficar com meu filho.
Quando cheguei em casa era inicio da tarde, achei estranho meu filho brincava debaixo de um sol muito forte ele era ainda muito pequeno e estava sozinho, perguntei pela mamãe, e ele disse que ela tava dormindo em casa, e ela disse para ele ficar brincando por perto da casa, peguei-o no colo e entrei. Iria chamar a atenção de minha esposa pelo ato de irresponsabilidade em deixar ele só.
Deixei meu filho na sala e fui procurar minha esposa, como ela era muito irritada entrei pé ante pé no quarto para avisar que já estava em casa, e mais tarde chamá-la para uma conversa, qual não foi meu espanto ela tava realmente dormindo só que tinha um homem dormindo com ela na minha cama. Não acreditava em meus olhos.
Fiquei louco de raiva fui até a cozinha peguei uma faca e parti pra cima do cara dei várias facadas nele, ele nem acordou. Ela acordou apavorada, tentou me impedir e acabei acertando uma facada nela também. Gritou como louca, defendendo aquele sujeito que eu nem sabia quem era. Um estranho em meus lençóis com minha mulher, era demais pra mim.
Meu transtorno era tanto que nem percebi a chegada dos vizinhos, a faca estava na minha mão quando percebi o que tinha feito; Acabava de matar um homem! Justo eu que não gostava nem de ver minha avó matar as galinhas para o almoço, nunca briguei com ninguém e agora era um assassino. Estava em estado de choque, o seu Joca o compadre do meu avô, me tirou de lá.
Os vizinhos que me conheciam sabiam da minha luta para manter minha família, quem não prestava era a Ritinha que depois soube andava com qualquer um enquanto eu trabalhava.
Seu Joca arrumou algum dinheiro com toda a vizinhança, muita gente ajudou e me despachou para São Paulo. Eu não conseguia pensar em nada.
Ele disse que eu não merecia passar o resto da minha vida numa prisão por causa daquela mulher, mas aquela mulher era minha esposa e mãe do meu filho.
Me arrependi muito do que fiz, ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém, todos tem o direito de viver, conforme lhe aprouver, e nós temos que respeitar isso, só não tive tempo de pensar sobre isso na hora, agi por impulso e foi muito errado. O que eu mais amava ficou para trás meu filho.
Em são Paulo, foi uma dificuldade tremenda, retirante nordestino tinha aos montes e trabalho nem tanto. Foram dias de muita luta com minha consciência, queria voltar para reparar meu erro, mas quando escrevia pro seu Joca relatando essa minha vontade, ele me aconselhava a desistir e tentar tocar minha vida aqui mesmo e esquecer o que tinha acontecido por lá. Soube depois que a Ritinha saiu do hospital e não foi grave o ferimento que causei, logo já estava em casa de novo, sabendo que os vizinhos tinham me ajudado a fugir ela ficou furiosa esbravejou ameaçou e fez um escândalo logo que pode vendeu a casa que era herança da minha avó, pegou o menino e foi embora de lá, não quis deixar o endereço com ninguém, de onde estava indo, pois todos sabiam da sua conduta errada enquanto era minha esposa.
Ela nunca fez muita questão de esconder que levava homens para minha casa, todos os vizinhos sabiam, e seu Joca me contou porque todos tinham dó de eu ser traído, mas também tinham receio de contar visto que a Ritinha ameaçava quem a delatasse, pois dizia que um de seus amigos era matador e era só ela mandar que ele faria qualquer coisa por ela. Se era verdade, ninguém sabia, mas na duvida, se calavam.
Levou meu menino, sabe Deus pra onde. Passei noites e noites acordado pensando no meu filho junto daquela doidivanas, o que ela poderia fazer contra meu menino, foram muitas lágrimas derramada pelo meu bem mais precioso o menino.
De novo estava sozinho, numa cidade muito grande, com tantos perigos por toda parte, e eu um homem amargurado e muito triste. Pensei muita besteira, vi muita coisa feia.
Depois de rolar pelos albergues de são Paulo consegui finalmente assentar minha cabeça e consegui um trabalho numa obra, eu era bom nisso, só precisava de uma oportunidade para provar meu valor.
Nessa vida de trabalhador passei muitos anos, refiz minha vida como não gastava meu dinheiro em bobagens, foi acumulando no banco e consegui comprar uma casinha, eu ia do trabalho pra casa de casa pro trabalho.
O tempo é cruel, quando dei por mim estava ficando velho e sozinho isso já tinha passado 15 anos que eu sai do norte e vim parar em são Paulo. O tempo passou e eu nem percebi.
Dona Lurdes era uma senhora muito prestativa, era esposa de meu companheiro das obras, pois depois de tanto tempo o empreiteiro tinha confiança no meu trabalho e me levava para todas as obras que ele pegava, o Jorge era meu companheiro de obra já a muito tempo era também um imigrante só que do sul, ele tinha um sotaque engraçado, quando veio para são Paulo com sua esposa tentar a vida, não esperava tanta dificuldade, muitas vezes tive de socorrer meu novo amigo, pois nosso ganho na obra não era de muita monta, e tudo na cidade grande é muito caro, teve um episódio que marcou muito, foi quando a esposa do Jorge foi pro hospital pra ter nenê passou muito mal e quase morreu, a criança não se salvou, era o primeiro filho deles, foi muito difícil pra Jorge e pra dona Lurdes superar a perda.
O tempo passou e não tiveram mais filhos aconteceu alguma coisa com a dona Lurdes e ela não pode ter mais criança. O jeito foi se conformar.
Já estávamos ficando velho para trabalhar em obra, consegui me aposentar pois já não conseguia mais produzir como antes e com o tempo veio a cobrança de tanto esforço, as pernas já estavam fracas, o reumatismo pegou feio e não queria me largar.
Eu já estava dependendo de remédio para poder andar, quando meu amigo faleceu ,ataque do coração, nem teve tempo de descansar tinha acabado de se aposentar e deixou a dona Lurdes sozinha.
Como eu sempre trabalhei era ela que cuidava de nós dois na verdade, muito limpa e caprichosa, cozinhava que era uma beleza, aprendi a comer muita comida sulista, coisa boa mesmo, tempero de primeira.
Uma grande mulher, de muito respeito e muito cuidadosa, agora sozinha estava muito triste e preocupada, pois tinha alguns problemas de saúde e o que seu marido deixou de aposentadoria não estava sendo suficiente para suas despesas, minha aposentadoria também não era muita coisa, mas sempre que podia ajudava a dona Lurdes, foi assim que depois de muito conversar e acertar tudo que decidimos, os dois sozinhos morando em duas boas casas, dava mais despesas ainda, então decidimos morar numa casa e alugar a outra, assim passamos a morar na mesma casa, em quartos separados como bons amigos que fomos por tanto tempo, dessa forma a renda da dona Lurdes aumentou e ela ficou mais tranqüila.
Mesmo passado tanto tempo eu ainda pensava muito no crime que tinha cometido, e sentia muita falta do meu filho, era um segredo que eu guardava no meu coração, não podia falar nada a ninguém, as vezes me sentia muito sufocado com todas essas coisas que tinha escondido.
A dona Lurdes pediu para que eu fosse comprar um remédio pra ela na farmácia que tinha no bairro, na volta pra casa meu coração parecia que ia parar, na porta de nossa casa tinha uma viatura policial, alguns bandidos tinham roubado uma loja e tinham fugido e entrado no nosso quintal, os policiais pegaram os bandidos mas como eles foram pegos no quintal da minha casa eles pediram meus documentos só para mostrar para o delegado no quintal de quem os bandidos estavam escondidos. Eu fiquei apavorado em entregar meus documentos para os policiais, eles logo perceberam meu nervosismo, e quando verificaram meus documentos descobriram que eu era procurado por assassinato no norte.
Fiquei calado e acompanhei os policiais, coitada da dona Lurdes não tava entendendo nada, como eu não esbocei nenhuma resistência os policiais ainda foram muito gentis com ela e disseram que eu estava sendo conduzido só para reconhecer os bandidos,e deixaram uma policial feminina para explicar para ela quem eu era, pois dona Lurdes era uma senhora, doente e de aparência muito frágil.
Já na delegacia o delegado pediu para que eu dissesse como tinha ocorrido o crime, que por sinal já estava quase prescrito, pois no Brasil em 20 anos prescreve os crimes não julgados e eu nem sabia disso, mas enfim já havia se passado 19 anos do ocorrido no norte.
Nem sei como fui parar no noticiário, mas acabou repercutindo nacionalmente, depois de tanto tempo, sem saber da minha família foi um grande susto quando depois de uma semana na delegacia ainda apareceu um rapaz bem arrumado e queria falar comigo, o delegado mesmo eu sendo procurado me tratou com muito respeito.
Fiquei sozinho com aquele rapaz, e olhando melhor senti um aperto muito forte no peito quando ele me disse tinha vindo do norte muito interessado no meu caso pois ele era advogado e me devia essa, eu não tava entendendo nada, foi quando eu percebi que o rapaz tirou do bolso um retrato antigo de um homem com uma criança no colo e me entregou, reconheci o retrato, pois foi um dos poucos passeios que eu tinha feito com meu filho e um retratista tirou uma foto de nós dois, comecei a chorar de saudades do meu menino, e disse ao rapaz que não tinha idéia de como estava meu menino. O rapaz ficou em silencio esperando eu me acalmar, mesmo com lágrimas rolando também por sua face.
Depois de algum tempo o rapaz, disse que a criança do retrato era ele, eu quase infartei de susto o meu menino era homem feito,e estava tão elegante de terno, era um homem de bem.
Ali na minha frente estava, o meu bem mais precioso, pedi para dar um abraço e ele chorando me abraçou muito forte e disse que sentiu muito a minha falta.
Meu filho estava ali para me tirar da prisão onde estive por tão pouco tempo, mas dentro do meu coração estive preso a minha vida toda, fui liberto da minha divida com a sociedade meu crime foi julgado e considerado legitima defesa da honra. Agora livre meu filho me disse que sua mãe falecera a pouco, mas fez de tudo para que ele estudasse e fosse alguém na vida e sempre o incentivou a procurar o pai, depois daquele fatídico dia ela foi pra outra cidade colocou quase todo o dinheiro da casa da minha avó na poupança para que o menino estudasse.
Ela entendeu que fez tudo errado, que sua conduta foi de uma pessoa má e sempre inocentou o pai para o filho, ela trabalhou e cuidou do menino até morrer.
Antes de morrer pediu para quando o filho estivesse com o pai pedisse perdão por ela, pois depois de tudo ela se arrependeu muito do que tinha feito.
Agora depois de tudo esclarecido, meu filho, aqui junto de mim, voltamos para casa para explicar para dona Lurdes toda a história, coitada ficou tão emocionada com tudo o ocorrido e se propôs a cuidar de nós dois, pois era um mulher de boa índole.
Meu filho foi criado longe de mim, tínhamos muita história para contar, e eu queria saber tudo sobre ele, como foi na escola, como foi crescer sem pai, foi uma vida inteira longe, agora eu estava feliz por poder compartilhar o resto da minha vida com meu maior tesouro, acredito que a esperança de revê-lo foi que me manteve firme até agora.
Já consigo dormir sem sobressaltos, tenho paz enfim.
Hoje agradeço a Deus por me permitir viver para esclarecer todo esse embrolho.
Nilda Zafra

Que texto lindo, parabens!
ResponderExcluirGOSTEI MUITO, PARABENS
ResponderExcluirmuito emocionante, valeu a pena ler.
ResponderExcluirPoxa que coisa linda parabens muito bem eloborado os testos e muito bem feito o teu blog ...parabens
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirManinha que você é um talento ninguem duvida, não guarde tanta coisa linda só pra você, divida conosco...beijussss e Parabéns...
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